segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ANTONIO JOSÉ DE ALMEIDA (MEU AVÔ)



Vovô ANTONIO JOSÉ DE ALMEIDA, o PORTUGUES, como o próprio nome o diz, era um lusitano de muita fibra, valentia e histórias. Viveu em Itambacuri, por mais de 50 anos, onde deixou grande descendência e visíveis grandes contribuições para o progresso, como um dos pioneiros desse importante e pujante município. Foi um mestre da carpintaria, um pai de família exemplar. Era muito exigente na sua profissão, tida como uma verdadeira arte e sacerdócio. Apesar de sua antiga profissão de palhaço, era sisudo e pouco dado a brincadeiras, em razão da disciplina que lhe fora imposta, pelos padres missionários, como condição de assim viver e trabalhar na cateqquese dos índios. Mesmo assim, confeccionava artesanalmente vários instrumentos musicais como rebecas, violas e caixas de percussão que muito agradavam aos bugres, que com ele também aprendiam os rudimentos para sua execução. 

Segundo o que ele mesmo nos contava, saiu de sua santa terrinha, da histórica e linda cidade do Porto, das mais antigas e festejadas tradições lusitanas, onde era ele aprendiz de carpinteiro náutico, num daqueles antigos estaleiros que ali existiam. Certo dia resolveu aventurar-se e, ainda jovem de 18 anos, alistou-se na marinha mercante e se embarcou como grumete num cargueiro que seguiria rumo ao porto de Salvador (Bahia). 

No carregamento daquele navio estava todo o material para a edificação de um teatro, naquela capital Baiana. Chegando ao Brasil, descarregando o material do teatro, o jovem marinheiro conheceu os empresários que logo o contrataram como carpinteiro na construção daquele prédio, no qual depois passou a figurar entre o elenco e revelar-se como bom humorista. Com seu espírito alegre, festivo e aventureiro, logo viu-se transferido e engajado num circo, onde adquiriu a identidade artística como o PALHAÇO CAPRICHO. 

Na condição de palhaço mambembe, passou a viajar, de navio ou de  trem, pelas principais cidades do Brasil. Foi assim que, no final do século 19 chegou à florescente e progressista cidade de Teófilo Otoni, onde depois de muito sucesso e desencontros, a Companhia Circense veio à falência e obrigou seus artistas a procurarem novas profissões e novos rumos. 

Com a experiência adquirida como carpinteiro, pediu serviço aos padres da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição que coordenavam as construções das igrejas na região do Mucuri. 

Trabalhou no acabamento da Igreja Matriz ( hoje a Catedral de Teófilo Otoni) e seu rendimento muito agradou aos religiosos que logo o indicaram para coordenar as construções da antiga Igreja de Nossa Senhora dos Anjos e do Colégio Santa Clara, no então distrito de Itambacuri.

Em Itambacuri conheceu sua namorada CATHARINA, cujo pai, Agenor Rodrigues da Luz, era fazendeiro na região de Santa Rita de Malacacheta, muito temido e respeitado pelo rigor com  que criava sua família, do qual obteve autorização para noivar, somente após ter-se aconselhado com os padres capuchinhos Frei Serafim de Gorizza e Frei Ângelo de Sassoferrato que lhes foram fiadores, padrinhos e celebrantes do casamento. 

Além das obras da igreja, do colégio, da conferência vicentina e do antigo hospital da Rua dos Índios, foi ele o responsável pela esquadria e carpintaria de telhados, portas, janelas e móveis de muitas das principais residências que ainda existem em Itambacuri e região, tendo repassado o ofício a muitos aprendizes de sua profissão. 


No retrato acima, assentados o casal ANTONIO PORTUGUÊS e DONA CATARINA; Logo atrás, em pé, Dona Amália, ao lado de Dona Dolinha. Os demais, da esquerda para a direita: Paulino (o caçula dos irmãos). Bráulio, Fernando (com o rosto parcialmente encoberto),  Serafim Português, Dona Zezé, Dona Aurora e Joaquim Português.

Vovô Antonio nunca voltou a Portugal mas mantinha vasta correspondência com seus parentes. Gostava de contar casos de sua  infância e juventude. Dedilhava sua viola e cantava, muito reservadamente, alguns fados saudosos. Era devoto fervoroso de seu "Santo Antoninho de Lisboa" e tinha na sua "tenda" um lindo oratório que ficava ao lado de uma bandeira de Portugal, com a qual foi enterrado.



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